É impressionante como a cada dia ouço Provedores fazendo esta pergunta!
A meu ver parece que o conceito de rede cabeada definitivamente se consolidou entre os Provedores e estes, localizados de norte a sul deste imenso Brasil, vem buscando formas de migrar suas redes wireless para redes cabeadas.
Esta tendência justifica-se em grande parte pelas complicações operacionais que uma rede wireless traz, gerando aos Provedores um alto custo para manter suas redes estáveis e seus clientes ativos.
É importante observar que quando falamos em redes cabeadas podemos alcançar diversas tecnologias, entre elas as tradicionais xDSL, HFC, HPNA e Fibras Ópticas Ponto-a-Ponto e Ponto-Multiponto FTTx. Além é claro das redes UTP que mais uma vez o espírito empreendedor e criativo do brasileiro se encarregou de desenvolver.
No entanto, para responder a pergunta feita no início deste artigo, vamos nos concentrar nas redes de fibras ópticas, nas redes UTP e na combinação destas duas, uma rede híbrida fibra-UTP.
Nos cursos que ministro pelo Brasil faço uma comparação simplória entre rede wireless e rede de fibras ópticas, dizendo que:
– Numa rede wireless, mesmo fazendo-se tudo 100% certo, não se tem garantia que sua rede vai operar bem, pois basta um outro provedor usar o mesmo canal para começar os problemas com interferências, perdas de pacotes, lentidão para acessar sites, reclamação de clientes, etc.
– Já numa rede de fibras ópticas, fazendo-se tudo 100% certo, a garantia da rede operar bem é de quase 100% (digo quase porque sempre alguém me lembra do caminhão batendo no poste), garantindo estabilidade da rede, clientes satisfeitos e maior lucratividade ao Provedor.
Sim, é devido a melhora do desempenho da rede e redução do custo operacional é que as redes de fibras ópticas, e em especial as redes PON FTTx vem ganhando tanto espaço e tornando-se a escolha de muitos provedores Brasil afora.
Costumo dizer que já passamos do tempo de precisar explicar os benefícios das fibras ópticas para os Provedores, todos têm bem claro que tecnicamente são as tecnologias por fibras ópticas que apresentam melhor estabilidade da rede, maior capacidade de largura de banda, menor custo de manutenção, maior alcance, além de uma maior vida útil e não sofrer com interferências e descargas atmosféricas.
Sendo assim, por qual razão que ainda se pensa em implantar redes UTP ou redes híbridas de Fibra+UTP?
A resposta é simples: CUSTO!
Uma rede totalmente óptica até a casa do cliente (FTTH) ainda é custosa e requer que os Provedores consigam um bom ticket médio com seus clientes para poder justificar este alto investimento.
Por esta simples razão, CUSTO, que os muitos Provedores começaram a cerca de 5 anos atrás suas redes cabeadas usando cabos UTP interligando switches a cada 80 metros para atender seus clientes.
Como se tratava de uma rede cabeada, imaginou-se que os problemas com interferências seriam resolvidos e assim poderiam oferecer planos com velocidades mais rápidas aos clientes.
Operacionalmente, redes UTP eram conhecidas por seus técnicos por apresentarem baixa dificuldade de instalação dos clientes, com um custo bem mais atrativo que as redes ópticas FTTH. Além disto, poder escapar de altos investimentos com máquina de fusão, OTDR e outros equipamentos de teste, era o argumento que faltava para decidir pelas redes UTP.
No entanto, a experiência prática com o UTP ao longo destes anos vem mostrando algumas dificuldades:
– Como o próprio nome diz, UTP vem da sigla em inglês “Unshielded Twisted Pair” que significa “par trançado sem blindagem”. Ou seja, começou-se a observar que o cabo UTP não é totalmente livre de interferências, principalmente no cabo tronco que interliga os switches e que para estes trechos melhor seria o cabo STP, do inglês “Shielded Twisted Pair” ou “par trançado blindado”. Mas, o cabo STP, além de mais caro, requer que sua blindagem seja aterrada, encarecendo mais o custo da rede.
– Ter um switch ativo a cada 80 metros deixa a rede muito vulnerável. O simples travamento de um switch no início da rede pode afetar várias dezenas de clientes.
– Diferentemente do início da jornada das redes UTP hoje temos boas soluções de alimentação dos switches, alimentação que “corre” pelo cabo UTP troncal que interliga os switches. Anos atrás era comum “soluções” caseiras injetando tensão de 220 VAC pelo cabo UTP para alimentar as fontes de alimentação dos switches. Além de um risco alto de acidentes, travamentos de switches eram constantes. Com o surgimento de fornecedores de fontes primárias, muitos dos problemas de travamento de switches foram resolvidos. No entanto, ficou ainda por resolver o maior problema das redes UTP…
– Descargas eletromagnéticas conduzidas pelos cabos UTP, dependendo de sua intensidade, acarretam na queima de dezenas de switches cascateados. Pessoalmente, já ouvi relatos de provedores que tiveram mais de 300 switches queimados durante uma noite de tempestade.
Com o que se aprendeu de redes UTP estes anos conclui-se que esta rede, embora apresente desempenho melhor que as redes wireless, ainda deixa a desejar no aspecto confiabilidade de rede e redução do custo operacional.
Obviamente, todos os “problemas” das redes UTP são tecnicamente contornáveis, bastando usar switches gerenciáveis, cabos STP, conectores RJ blindados e caprichar MUITO no aterramento de cada poste onde exista um switch. O problema é que tudo isto acaba encarecendo demais a rede.
E, com isto, voltou-se novamente a atenção de muitos Provedores para as redes PON, uma vez que estas redes de fibras ópticas não possuem ativos na rede sujeitos a travamento. Além do mais, fibra óptica é um meio dielétrico que não sofre com interferências e muito menos com descargas eletromagnéticas.
Soma-se a isto que nestes 5 anos reduziu-se o preço da fibra e dos equipamentos e chegamos então à conclusão que agora é a hora de investir em FTTH, certo?
Depende!
Embora o custo da fibra e equipamentos tenha caído, o investimento numa rede FTTH ainda é mais alto e em muitos casos não se viabiliza.
Temos de lembrar que o Brasil é um país continental e com diferenças estruturais tão grandes quanto sua extensão geográfica.
Enquanto em algumas regiões conheço Provedores operando redes FTTH oferecendo velocidades de até 100 Mbps, também conheço Provedores wireless operando em regiões ainda oferecendo planos de 300 kbps.
Sempre digo que uma tecnologia nunca é absoluta e que sempre vão existir tecnologias diversas coexistindo e se complementando. Isto também vale para a redes de fibras ópticas, as vezes é interessante mesclá-la com outra tecnologia.
Quando levantamos o custo de um projeto FTTH puro, levando fibra até a casa do cliente, percebemos que o caro não é propriamente o custo da rede óptica de transporte e alimentação, mas sim a ativação do cliente.
De fato, do custo total de um projeto FTTH, observa-se que cerca de 40% são gastos na construção da rede (OLT, DIO, cabo ópticos, caixas de emendas, splitters, caixas de atendimento, ferragens, etc) e que 60% é gasto na ativação do cliente (conectores ópticos de campo, cabo drop, PTO e ONT).
Se o caro não é construir a rede mas ativar o cliente, como então podemos ativar os clientes com um custo menor e aproveitar os benefícios de uma rede óptica?
Foi para responder esta pergunta que surgiu o conceito do PACPON.
O PACPON tem por objetivo funcionar como um ponto de atendimento ativo onde serão conectados os clientes. Hoje no mercado existem diferentes fornecedores de PACPON e diferentes conceitos. Alguns fornecedores possuem o conceito de ter seu PACPON como uma ONU de várias saídas Ethernet que serão conectadas às casas dos clientes por meio de cabos UTP. Outros têm o conceito de seu PAC ser uma solução de energia para alimentar uma ONU, um switch ou mesmo um conversor de mídia.
No entanto, a característica em comum de todos é que a alimentação do PACPON venha da casa do cliente, pretendendo-se com isto que não seja mais necessário interligar switches via cabo UTP e ter tensão fluindo por estes cabos.
Na verdade, todos os fornecedores de PACPON promovem seus produtos para algum tipo de cascateamento entre eles, permitindo de 3 a 5 PACPON cascateados via cabo UTP.
Embora eu entenda que o fator custo novamente atrai para este tipo de topologia, eu não a recomendo. A meu ver, ao receber alimentação oriunda do cliente, o PACPON veio responder a questão do custo de ativação e resolver o problema das descargas eletromagnéticas queimando switches em cascata.
Interligá-los gera uma economia ao provedor por não precisar de uma fonte primária como numa rede UTP pura, mas segue deixando a rede exposta a descargas eletromagnéticas queimando switches cascateados. Criando pequenos setores cascateados, concordo que o problema é minimizado, mas ainda assim é algo que não me atrai tecnicamente.
Com isto em mente, entendo a solução PACPON muito interessante se esta for utilizada somente como ponto de atendimento realmente, numa topologia com fibra chegado a todos os PACPONs e sem cascateamento entre eles.
O conceito é que sempre recomendo é pensar no projeto da rede como se fosse FTTH, chegando com fibra até a casa do cliente. Desta forma, faz-se o projeto agrupando-se possíveis clientes a uma caixa de atendimento. Define-se e posiciona-se todas as caixas de atendimento FTTH, rua por rua da área que se pretende cobrir. Em seguida agrupa-se as caixas de atendimento em caixas de distribuição. E depois as caixas de distribuição até o provedor.
Sim, o projeto é feito do cliente para o provedor e não ao contrário!
Desta forma, uma vez que temos o projeto da rede FTTH, podemos facilmente convertê-lo para hibrido trocando a caixa de atendimento FTTH pelo PACPON em áreas onde entendemos ainda não ser viável atender com FTTH puro.
A medida que os custos de ativação forem viáveis para o provedor atender com fibra pura, como já tem-se fibra chegando no PACPON, inserirmos uma caixa de atendimento FTTH com splitter para atendimento com fibra aos clientes. E, inclusive, podemos manter uma das portas do splitter para manter o PACPON ativo para clientes que desejem planos mais baratos.
Usando esta estratégia entendo que em possível aproveitar de custos baixos de ativação do cliente com PACPON e ter ao mesmo tempo uma rede de fibra óptica preparada 100% para FTTH.
Já expus este tipo de topologia para vários Provedores. Não tenham dúvida, muitos concordaram comigo e muitos discordaram. Alguns entendem que como a rede de fibra equivale a 40% dos custos totais, vale a pena deixa-la preparada 100% para o FTTH. Outros entendem que ainda assim é um custo alto e preferem montar “apenas” seu backbone principal com fibra óptica, tendo a distribuição via UTP e switches cascateados.
Não existe quem está certo ou errado, o que existe aqui são estratégias de investimento/crescimento que cada Provedor possui e temos de respeitar. No entanto, um argumento não podemos discutir:
“Quanto mais próximo chegarmos da casa do cliente com fibra, mas próximos estamos da rede FTTH. E mais hora menos hora atenderemos com FTTH.”
Finalmente, a escolha por rede FTTH pura ou hibrida com PACPON, além dos aspectos econômicos/financeiros também passa por aspectos técnicos que devem ser observados.
Economicamente, o atendimento com PACPON reduz o custo de ativação do cliente de 50% a 60%. Mas tecnicamente também experimentamos uma redução de desempenho.
Enquanto numa rede FTTH típica podemos vender planos com velocidade de 100 Mbps, 200 Mbps, podendo até mesmo chegar a 1 Gbps, o mesmo não ocorre com redes híbridas com PACPON. Para ser bem otimista, dependendo da topologia da rede, talvez seja possível ofertar velocidades de 50 Mbps com PACPON, mas eu limitaria a oferta em 20 Mbps por cliente.
Uma rede FTTH pura está tecnicamente preparada para ofertar outros serviços de valor agregado, como telefonia (SIP ou IP) e televisão (RFoG ou IPTV). Já numa rede com PACPON teremos condições de ofertar apenas telefonia IP e talvez alguns poucos canais de TV em definição SD. Já a transmissão de canais massiva em Full HD entendo muito complicado.
Conclusão:
E então, PACPON é a solução ou não?
Se o Provedor ainda não conseguiu agregar novos serviços a sua rede, deseja vender somente Internet até 20 Mbps e, principalmente, precisa conviver com ticket baixo; a resposta é Sim! PACPON pode ser uma solução intermediária de baixo custo, que permite uma transição para redes cabeadas rapidamente.
Agora, se o provedor deseja entregar pacotes de TV e telefonia, Internet de alta velocidade com planos acima de 20 Mbps e, principalmente, consegue um bom ticket médio com seus clientes, a resposta é Não! PACPON não é a solução, invista em FTTH puro.
Ou seja, voltamos a reposta universal…DEPENDE!
Qual é o teu caso?